Em 2025, a transição energética na América Latina deve ganhar força com a expansão da energia solar e eólica, o avanço do armazenamento de energia no Brasil e o início da produção local de veículos elétricos no México, segundo a BloombergNEF.
O relatório “10 tendências para ficar de olho na América Latina em 2025” destaca os principais temas que devem movimentar o setor este ano, com base em análises especializadas realizadas ao longo de 2024.
Um dos principais destaques é o Brasil, que será sede da COP30, a Conferência do Clima da ONU, em novembro, em Belém do Pará. “Como anfitrião da COP30 e após liderar o G20 no Rio de Janeiro, o Brasil tem uma oportunidade única de impulsionar a transição energética e a agenda climática global”, afirma Vinicius Nunes, analista da BloombergNEF.
Com mais de 90% da matriz energética do Brasil composta por fontes renováveis, Vinicius Nunes também ressalta os cinco leilões de energia previstos para 2025, que devem atrair investimentos em eletricidade limpa. Um dos destaques é o leilão voltado para armazenamento em baterias, impulsionando o avanço dessa tecnologia no país.
Além da expansão das renováveis e do armazenamento de energia, outros temas se destacam no setor. Confira a seguir as dez principais tendências para 2025.
As 10 tendências
1. Produção local de veículos elétricos avança
As vendas de veículos elétricos na América Latina dobraram em 2024, lideradas por Brasil e México. Em 2025, o foco será a fabricação local. O México, com base industrial forte e proximidade dos EUA, enfrenta incertezas devido ao governo Trump e possíveis tarifas sobre o acordo de livre comércio entre Estados Unidos, México e Canadá-o USMCA.
No Brasil, a BYD e a Great Wall Motors devem acelerar a paridade de preços dos veículos elétricos com os carros a gasolina, impulsionando o mercado regional.
2. Hidrogênio verde: primeiro projeto na região
Os projetos de hidrogênio na América Latina estão em expansão, mas nenhum alcançou decisão final de investimento (FID) até então. A BloombergNEF prevê que isso ocorrerá em 2025.
No Brasil, políticas de incentivo criaram R$ 18,3 bilhões em créditos fiscais e podem adicionar R$ 6 bilhões para hubs até 2035. A região também pode se beneficiar dos planos europeus de importação de hidrogênio, com a estatal alemã Hintco planejando leilões regionais de 3 bilhões de euros (R$ 16,5 bi). Os resultados dos incentivos brasileiros serão anunciados em 2026.
3. Energia eólica e solar em alta
A América Latina deve adicionar 26 GW de novas capacidades em energia renovável, liderada pelo Brasil. Apesar de uma leve queda de 9% no ritmo de crescimento, a região ainda deve registrar um ano positivo: 26 gigawatts (GW) de novos ativos de fontes limpas.
A energia solar do Brasil é o principal motor de renováveis no país e na região, mas enfrenta queda nas instalações de pequena escala devido a tarifas de rede, desafios regulatórios e custos de importação.
No México, espera-se uma recuperação nas adições de eólica e solar em escala utilitária, podendo atingir 3 GW em 2025 e 7 GW até 2030, com incentivos do governo de Claudia Sheinbaum, mais favorável a investimentos privados.
4. Argentina abre as portas para lítio, petróleo e gás
O presidente Javier Milei apostou na transição energética da Argentina em 2024 com a “Ley Bases”, uma reforma que passa a oferecer benefícios para projetos acima de US$ 200 milhões, visando atrair investimentos em mineração, petróleo e gás.
Até 2025, nove projetos já haviam solicitado adesão ao regime, incluindo o gasoduto Vaca Muerta Sur, essencial para exportações. Projetos de lítio, como os das empresas Posco e Galan Lithium, também serão beneficiados, consolidando a Argentina como a terceira maior reserva de lítio do mundo.
No caso da Argentina, Milei aposta na transição sem abandonar imediatamente os combustíveis fósseis, e sim em equilibrar o aumento de renováveis enquanto se aproveitam os recursos disponíveis para levantar financiamento. O Vaca Muerta, por exemplo, é visto como uma oportunidade para gerar receita e atrair investimentos estrangeiros.
5. Data centers e indústrias verdes impulsionam contratos de compra
O Brasil pode superar 2 GW em contratos de compra de energia (PPAs) de fontes solares e eólicas em 2025, impulsionado por um aumento de 3,5% na demanda energética, crescimento econômico e novas indústrias como data centers e hidrogênio.
A volatilidade dos preços de energia, agravada por secas no sudeste a presença do fenômeno La Niña, deve levar mais empresas a buscarem PPAs para mitigar riscos.
Em 2024, desafios como excesso de oferta hidrelétrica e gargalos na transmissão reduziram a demanda por novos contratos, mas acordos importantes foram firmados, incluindo 341 megawatts para data centers e 366 megawatts para fertilizantes verdes.
6. Leilões aumentam investimentos e baterias ganham destaque
Em 2025, leilões de energia no Brasil devem aumentar investimentos e lançar o mercado de armazenamento de baterias.
Serão cinco rodadas: quatro no primeiro semestre e um leilão de transmissão no segundo. Dois leilões em junho visam atender à demanda de pico: um para usinas térmicas e hidrelétricas e outro para baterias, com capacidade mínima de 30 megawatts e duração de quatro horas.
A BloombergNEF projeta crescimento rápido no armazenamento de baterias, superando 1 GW de adições anuais até 2030, com capacidade acumulada de 4,6 GW. Leilões de transmissão, que atraíram US$ 43 bilhões (R$ 215 bi) na última década, buscarão aliviar gargalos na rede.
7. Combustível sustentável para aviação e biometano decolam
No Brasil, a indústria de biocombustíveis será impulsionada em 2025 pela Lei Combustível do Futuro, que estabelece regras para o biometano e combustíveis sustentáveis de aviação (SAFs).
O biometano pode crescer até 64% este ano, com a Petrobras liderando a demanda. Embora o Brasil ainda não tenha plantas de SAF operacionais, quatro projetos estão planejados, totalizando 259 milhões de galões por ano até 2029 e atendendo à demanda inicial em 2026. Estes visam reduzir emissões e aumentar a produção de biocombustíveis no país.
8. Mercado de carbono regulado no Brasil aumenta a demanda
Em dezembro de 2024, o senado brasileiro aprovou o mercado regulado de carbono, previsto para estar totalmente operacional até 2030. Os detalhes devem ser finalizados este ano, antes da COP30 em Belém.
Atualmente, o Brasil é um dos maiores produtores de créditos de carbono para mercados voluntários, representando 6% destes globalmente desde 2015. A BloombergNEF estima que o país pode gerar 30,5 bilhões de toneladas métricas de créditos de carbono até 2050 e a demanda irá crescer com a regulação.
Empresas internacionais como Takeda Pharmaceuticals, Delta Airlines e Geopost estão entre as maiores compradores de créditos brasileiros e devem continuar a depender do país para alcançar suas metas de emissões líquidas zero. Já as brasileiras como a Natura, também devem se destacar como grandes compradoras, com o avanço das regras.
9. Brasil no centro das atenções com a COP30
Como anfitrião da COP30 em Belém do Pará, o Brasil tem a oportunidade de liderar a transição energética e a agenda climática, com foco em preservação ambiental e soluções baseadas na natureza.
O grande evento global do clima deve contar com o lançamento oficial do Tropical Forest Finance Facility (TFFF), fundo com meta de arrecadar US$ 125 bilhões para a conservação de florestas.
O mercado de carbono também será um dos principais temas, com avanços esperados no Artigo 6.2 para tornar o comércio de emissões entre países operacional e em definições do Artigo 6.4, sobre o mecanismo global de créditos.
10. Novo plano energético do México
O México prevê um aumento em renováveis, com a adição de 2,6 GW de capacidade eólica e solar em 2025, o maior valor desde 2020, e previsão de 6,5 GW anuais até 2030.
A recuperação é impulsionada por oportunidades de nearshoring e pelo novo plano energético da presidente Claudia Sheinbaum, que garante 54% da geração pela estatal CFE, mas permite investimentos privados por contratos de longo prazo, parcerias público-privadas e participação no mercado atacadista.
O plano prevê adicionar até 23 GW de capacidade até 2030, com estimativas de até 30 GW devido às novas oportunidades econômicas.
Reflexos de Trump
Em relação aos reflexos das políticas de Trump nas tendências, o analista da Bloomberg NEF reforçou que o investimento em energia renovável já está maduro no Brasil e pode não ser diretamente impactado. Por outro lado, as oportunidades de exportação para os EUA estão ameaçadas devido a novas tarifas — e as empresas que visam a maior economia do mundo devem ser cautelosas, segundo Nunes.
No caso do México, a base manufatureira e a proximidade com os EUA o tornaram ‘um local dos sonhos para os esforços de nearshoring’ e Ford, General Motors e Stellantis já produzem veículos elétricos lá, principalmente com foco na exportação para o mercado americano, destacou o especialista.
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