A partir de agora, o pirarucu da marca Gosto da Amazônia, oriundo de manejo de comunidades indígenas e ribeirinhas do Amazonas, comercializado pela Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC), já pode ser vendido com o selo Fair Trade USA e ampliar o mercado para o exterior com foco no fortalecimento econômico de comunidades extrativistas do Médio Juruá e do povo Paumari das Terras Indígenas do Rio Tapauá, região Médio Purus, da Associação Indígena do Povo das Águas (AIPA).
A conquista da ASPROC é pioneira, pois é a primeira organização a obter o selo Fair Trade USA para o pirarucu de manejo. Este é um marco crucial para a pesca sustentável e ética no contexto da Amazônia, pois atesta o valor social e ecológico do manejo comunitário do pirarucu.
O processo para obter a certificação foi coordenado pelo Instituto Juruá, por meio do projeto de exportação ‘The Fish of Change’, financiado pelo Serviço Florestal dos Estados Unidos. Este resultado vem depois de um longo processo de interação do Coletivo do Pirarucu, composto por diferentes organizações, que atuam de forma colaborativa nas discussões e implementações da Cadeia do Pirarucu.
Com a certificação, válida por 3,5 anos, a ASPROC pode comercializar o pirarucu Gosto da Amazônia, no mercado nacional e internacional, com o selo de comércio justo Fair Trade USA para compradores adequados a norma comercial deste selo, como a certificação Fair Trade USA, a efetivação de contratos comerciais de comércio justo e pagamento do prêmio sob o volume comercializado.
A primeira experiência de comercialização do selo de comércio justo Fair Trade USA é com o apoio do grupo Blueyou, que fará a distribuição e inserção do pescado no mercado internacional, incluindo Canadá e Hong Kong.
Ao escolher produtos certificados pelo Fair Trade USA, os consumidores tornam-se agentes de mudança, valorizando o trabalho que manejadores e manejadoras realizam de conservação da Amazônia, além de incentivar o comércio pautado em princípios éticos.
De acordo com o coordenador de produção da ASPROC, Eude Santiago, a certificação é significativa para a associação, pois demonstra o protagonismo comunitário. “Ela reflete a nossa escolha e dos nossos parceiros na condução responsável e sustentável de realizar os negócios de base comunitária. Esse modelo vai permitir demonstrar mais transparência, além de levar confiança para os nossos consumidores”, afirmou.
Para a certificação, a equipe do projeto optou por trabalhar com a Fair Trade USA, fundada em 1998, principal certificadora independente de produtos do Comércio Justo nos EUA, com foco em mercados agrícolas, de pescados e de manufaturas. A Fair Trade USA busca promover o consumo consciente e o comércio mutuamente benéfico para todas as partes envolvidas. Para obter o selo, a ASPROC passou por todo o processo de certificação, centrado na Norma de Pesca de Captura (CFS), abrangendo nove módulos que vão desde o empoderamento dos manejadores até questões trabalhistas, gestão de recursos naturais, transparência e a promoção de um sistema interno para aperfeiçoamento da gestão do titular do certificado.
As auditorias são feitas anualmente por um órgão independente autorizado pela Fair Trade USA, denominado “organismo de conformidade”, que verifica o cumprimento e a conformidade com a Norma CFS. A ASPROC passou pela primeira auditoria, em 2023, realizada pela empresa SCS Global Services, na comunidade Lago Serrado, localizada no Território Médio Juruá, em Carauari, a 790 km de Manaus.
O processo de certificação é contínuo e a ASPROC encontra-se na fase entre o Ano Zero e o Ano 1, implementando novas normas e atendendo a critérios evolutivos da CFS que aumentam e qualificam os trabalhos ano após ano.
“Agora, com o selo Fair trade, damos um passo importante em valorizar a floresta em pé, os rios saudáveis, com visibilidade e remuneração mais justa para as comunidades por meio de produtos que tornam isto viável. Esse projeto é um grande exemplo de impacto do trabalho realizado com diversas parcerias, entre organizações sociais, governo, associações de base comunitária e o setor privado”, afirma Jayleen Vera, gerente do programa USFS no Brasil.
Sobre a ASPROC
A Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC) foi criada em 1994 pelo movimento de extrativistas que se uniram para combater o sistema de exploração econômica, social e ambiental que surgiu na região do Médio Juruá, Amazonas, com a extração da borracha. Desde a criação, a ASPROC representa interesses das populações tradicionais no Médio Juruá pela melhoria da qualidade de vida com a garantia de direitos sociais e mobilização permanente das 730 famílias associados atualmente.
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