Seis novas espécies de aranhas do gênero Falconina foram descobertas durante a pesquisa de mestrado de Fabiàn Alfonso García, pesquisador colombiano e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Evolução (PPGBE) do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). O artigo sobre as novas espécies foi publicado na edição de volume 5343 da revista científica Zootaxa, bastante conhecida na área da biologia por divulgar grande parte das novas descrições de espécies animais.
Orientado pelo Dr. Alexandre Bonaldo, pesquisador da coordenação de Zoologia do Museu Goeldi que atua na área de aracnologia há mais de 30 anos, parte da pesquisa de Fabiàn García consiste em uma revisão taxonômica das aranhas do gênero Falconina.
A taxonomia é a área da biologia encarregada de classificar e organizar os seres vivos em grupos ou categorias. E a revisão taxonômica é uma análise aprofundada e atualizada da classificação desses seres vivos. O trabalho de revisão é importante para contribuir no entendimento do que se sabe até o momento sobre a diversidade, a distribuição geográfica, a descrição de novas espécies, entre outros fatores.
Quebra-cabeças
“Geralmente, quando se faz um trabalho desse tipo é como se estivesse montando um quebra-cabeças. A cada revisão se coloca uma peça. O histórico é bastante grande, começou em 1881, quando se descreveu a primeira espécie desse grupo de aranhas pela primeira vez. Então já se passou um bom tempo e ainda seguimos colocando peças”, explica Fabiàn.
O grupo do gênero Falconina pertence à família das aranhas Corinnidae. As Falconina são bem pequenas e podem chegar até um centímetro de comprimento. Comedoras de formigas e cupins, são encontradas com maior frequência no período da noite, pelo chão, em busca de alimento. As aranhas Falconina não oferecem perigo algum para os seres humanos.
“Por que é importante descrever essas espécies novas? Porque vivemos em um panorama em que mais diversidade está se perdendo. Todo dia falamos sobre a perda da Mata Atlântica, novas queimadas na Amazônia, então muitas espécies podem estar se extinguindo sem a gente ter conhecido antes”, destaca Fabiàn.
Previamente, já tinham descrito espécies de Falconina, mas estavam em outros gêneros. A primeira vez que o gênero foi descrito formalmente foi em 1953, mas com o nome de Falconia. Em 1985, o entomologista e aracnólogo italiano Paolo Brignoli atribuiu um novo nome, Falconina, pois observou que Falconia já era o nome usado para descrever um grupo de percevejos. O nome Falconina se refere à localidade de Falcon, na Venezuela, lugar onde foi descrita a espécie de aranhas pela primeira vez.
Antes da revisão taxonômica realizada por Fabiàn, apenas quatro espécies de Falconina eram conhecidas. A Falconina melloi (encontrada na Venezuela e Colômbia); a Falconina albomaculosa (Equador); a Falconina crassipalpis (Panamá) e a Falconina gracilis (distribuída geograficamente em regiões da Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Estados Unidos).
Espécies Novas
Com o processo de revisão taxonômica da nova pesquisa, foram descobertas seis novas espécies de aranhas Falconina. Os nomes das novas espécies encontradas são dedicados a aracnólogos brasileiros e colombiano, a um personagem folclórico do estado do Piauí e ao pai do pesquisador Fabiàn.
As novas espécies são:
a Falconina adriki, encontrada em Petrópolis, no Rio de Janeiro, dedicada ao aracnólogo brasileiro Adriano Brilhante Kury;
a Falconina andresi, descrita em Puerto Gaitan, na Colômbia, e dedicada ao aracnólogo colombiano Andres Felipe García;
a Falconina iza, encontrada em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e dedicada à técnica da Coleção de Aracnologia do Museu Goeldi, Izaura Magalhães;
a Falconina taita, encontrada em Saporé e Sapecho, na Bolívia, dedicada ao pai do pesquisador Fabiàn (“taita”, no idioma Quechua e em outras línguas indígenas andinas significa “pai”);
a Falconina brignolii, encontrada em Sucre, na Venezuela, e dedicada ao aracnólogo italiano Paolo Brignoli;
e a Falconina catirina, encontrada em Piracuruca, no estado do Piauí, e dedicada a José Ferreira de Egito, personagem da região que vivia dentro das cavernas do Parque Nacional Sete Cidades, localidade em que a espécie foi encontrada.
Fàbian García destaca que duas destas espécies, a Falconina brignolli e a Falconina catirina, fazem parte da coleção do Museu Goeldi. As demais espécies estão em coleções externas. A pesquisa é fruto da revisão de espécies depositadas em diferentes coleções científicas, nacionais e internacionais. Ao longo da pesquisa, Fàbian fez algumas expedições para Goiás e Espírito Santo para coletar materiais. Após a coleta, todo o processo de pesquisa é feita no laboratório, como por exemplo, a ilustração das genitálias das aranhas, fotografias, medidas, microscopia de varredura, entre outros métodos.
Outros resultados
Além da descoberta das seis novas espécies, a pesquisa de revisão taxonômica complementou e atualizou as descrições das espécies Falconina crassipalpis e Falconina albomaculosa, cujos desenhos originais não traziam muitas informações. A pesquisa também descreveu pela primeira vez um macho da espécie F. albomaculosa. Até então, só se tinha conhecimento sobre a fêmea da espécie, cujo país de origem é o Equador, mas foi coletada na Alemanha, após viajar da América do Sul para a Europa em cachos de bananas.
Outro resultado da pesquisa foi a documentação da variação morfológica da Falconina gracilis. Foram encontradas pequenas variações morfológicas nas genitálias da espécie, que está amplamente distribuída por países da América do Sul e Estados Unidos. No entanto, essas variações não foram suficientes para classificá-la como espécies diferentes.
A pesquisa foi financiada pelo Greenpeace Brasil, pela American Arachnological Society (AAS) e pelo Programa de Apoio à Pós-Graduação (PROAP). E também foi possível graças às coleções científicas biológicas, grandes bibliotecas de biodiversidade que resguardam e cuidam do patrimônio biológico.
Com essa atualização mais recente, os próximos passos da pesquisa de Fabiàn é entender a evolução das aranhas da família Corinnidae, usando dados morfológicos e moleculares, continuando com a linha de pesquisa do Dr. Alexandre Bragio Bonaldo.