A população de tucunaré-açu (Cichla temensis) acelerou o processo evolutivo da espécie, que hoje está se adaptando aos novos ambientes aquáticos gerados após 40 anos do represamento do rio Uatumã (afluente do rio Amazonas) para a construção da Usina Hidrelétrica de Balbina, localizada no município de Presidente Figueiredo, no Amazonas.
Foi o que constatou a pesquisa intitulada ‘Impacto das Usinas Hidrelétricas em Peixes: um estudo de caso do Tucunaré no reservatório de Balbina’, sob a coordenação da cientista Maria Doris Escobar Lizarazo, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
A pesquisa utilizou a genômica, que permitiu conhecer parâmetros populacionais e o estado de conservação da espécie, como base para estratégias efetivas de manejo e conservação desse peixe, em prol de uma pesca sustentável, evidenciando como a fragmentação artificial do habitat aquático aprofundou a diferenciação entre as populações de peixes e, no caso daqueles que não são migratórios, como o tucunaré-açu, acelerou os processos adaptativos aos novos ambientes, aumentando o isolamento da população.
O estudo apontou ainda que as usinas hidrelétricas causam modificações drásticas nos ecossistemas aquáticos, o que pode acarretar em impactos consideráveis na dinâmica dos peixes e levar a transformações nos processos microevolutivos das populações, podendo levar à extinção local, uma vez que funcionam como um filtro ambiental sobre as espécies, bloqueando as rotas migratórias e troca gênica dos peixes.
A pesquisadora explica que, embora a forma de possibilitar a conectividade de uma população fragmentada seja desenvolver passagens físicas ou programas ambientais que permitam a troca de genes entre os grupos que foram isolados, no caso deste estudo, sugere não reconectar a população, uma vez que cada grupo populacional está evoluindo de forma independente em diferentes ambientes.
“Uma reconexão poderia afetar a adaptação especialmente do grupo a montante da barragem e alterar a sobrevivência da espécie”, pontua Maria Doris.
Ela recomenda a manutenção de um programa de monitoramento que avalie as alterações nas populações, incluindo as alterações genéticas, e que oriente medidas de gestão adequadas, a fim de salvaguardar a diversidade nas populações selvagens.
“Recomendamos a realização de estudos adicionais, utilizando plataformas que sejam capazes de capturar mais informações genômicas, com o objetivo de corroborar nossa hipótese”, acrescenta a coordenadora.
Apoiaram o estudo pesquisadores colaboradores da Ufam, entre eles, Carlos Freitas, Lorenzo Barroco, Tomas Herbek, José Gregório Martinez e outros que contribuíram na coleta de exemplares e no trabalho laboratorial.
A pesquisa é apoiada pelo Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) – via Programa de Apoio à Fixação de Doutores no Amazonas (Fixam), que visa estimular a fixação de recursos humanos com experiência em ciência, tecnologia e inovação e/ou reconhecida competência profissional em instituições de ensino superior e pesquisa, institutos de pesquisa, empresas públicas de pesquisa e desenvolvimento, empresas privadas e microempresas que atuem em investigação científica ou tecnológica.
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Com informações: Agência Brasil