A semana foi marcada por turbulência nos mercados globais após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarar a quarta-feira (2) como o “Dia da Libertação” americana. A data marcou o início de uma nova e agressiva política tarifária: o lançamento das chamadas “tarifas recíprocas”, um pacote que atinge produtos de mais de 180 países com taxas de importação que variam entre 10% e 50%.
Segundo Trump, o objetivo é “libertar” a economia americana da dependência de produtos estrangeiros e fortalecer a indústria nacional. A medida, no entanto, provocou forte instabilidade nos mercados financeiros e acendeu o alerta para uma possível escalada nas tensões comerciais internacionais.
Impacto imediato: bolsas em queda e dólar em alta
A reação dos mercados foi imediata. Na sexta-feira (4), os principais índices acionários da Ásia e da Europa fecharam em forte queda. Nos Estados Unidos, o impacto foi ainda mais expressivo: as bolsas acumulam perdas de até 10% na semana, com estimativa de US$ 6 trilhões evaporando do valor de mercado em apenas dois dias.
No Brasil, o reflexo também foi sentido. O dólar disparou 3%, encerrando o dia cotado a R$ 5,83, maior patamar em quase um mês. O Ibovespa caiu 2,96%, fechando a semana aos 127.256 pontos.
Reações internacionais e risco de guerra comercial
A nova rodada de tarifas deflagrou uma onda de críticas e promessas de retaliação. A China anunciou imediatamente uma tarifa de 34% sobre produtos americanos, mesma taxa imposta por Trump. A medida passa a valer na próxima quinta-feira (10).
Na Europa, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, classificou a decisão como um “erro estratégico” e declarou que o bloco está pronto para retaliar. França e Reino Unido também se manifestaram, pedindo que empresas locais reconsiderem investimentos em território americano.
O que muda para o Brasil com o novo tarifaço de Trump
A imposição de tarifas de 10% sobre todas as importações brasileiras pelos Estados Unidos tem potencial para causar uma série de impactos econômicos e comerciais imediatos ao Brasil especialmente em setores estratégicos.
1. Exportações em risco
O aumento das tarifas torna os produtos brasileiros menos competitivos no mercado americano. Itens como etanol, carne bovina, celulose, aço, café e soja, que já enfrentam concorrência acirrada no exterior, podem ter queda nas vendas para os EUA. Isso afeta diretamente as receitas de exportação e pressiona o desempenho da balança comercial brasileira.
2. Redução de investimentos
O clima de incerteza e as medidas protecionistas tendem a afastar investimentos internacionais. Empresas multinacionais podem adiar ou cancelar planos de expansão no Brasil, temendo dificuldades para exportar aos Estados Unidos o que impacta o mercado de trabalho e a geração de renda.
3. Efeito sobre o dólar e a inflação
A instabilidade causada pelas tarifas já elevou o valor do dólar, que superou R$ 5,80 na última semana. A alta da moeda americana encarece produtos importados e pode pressionar a inflação interna, principalmente em setores que dependem de insumos vindos de fora. O Banco Central pode ser forçado a manter os juros altos por mais tempo.
4. Pressão por retaliação brasileira
A resposta política já começou: o Senado aprovou a chamada Lei da Reciprocidade Econômica, que autoriza o governo brasileiro a retaliar países que impuserem barreiras comerciais. Isso pode incluir suspensão de acordos, aumento de tarifas sobre produtos americanos e medidas diplomáticas o que ampliaria o clima de tensão e poderia iniciar uma guerra comercial bilateral.
5. Necessidade de novos acordos comerciais
Com o mercado americano mais hostil, o Brasil será pressionado a diversificar seus parceiros comerciais, fortalecendo relações com a União Europeia, China e países da América Latina. A medida de Trump pode acelerar negociações bilaterais e regionais, e aumentar o interesse brasileiro no fortalecimento do Mercosul.
Riscos para a economia global
Especialistas alertam que o aumento das tarifas pode encarecer insumos, elevar a inflação nos Estados Unidos e forçar o Federal Reserve (Fed) a subir os juros novamente, o que geraria efeitos em cadeia nas economias emergentes.
A Organização Mundial do Comércio (OMC) estima que as novas barreiras impostas por Trump podem reduzir o comércio global em 1% ao longo de 2025, o que representa bilhões de dólares em circulação a menos.
Com os Estados Unidos sendo o segundo maior parceiro comercial do Brasil, setores como o de etanol e produtos agrícolas devem sentir os primeiros impactos. O movimento pode acelerar a necessidade de o país buscar novos acordos comerciais e parceiros estratégicos para compensar as perdas.
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