O Estado do Amazonas é o maior Estado do Brasil. Ele se destaca pelas suas dimensões principalmente quando essas são comparadas com alguns países europeus, cuja dimensão é de 1.559.167,878 km² (IBGE 2021), mas também pela rica biodiversidade na flora e fauna, visto que o Estado abriga a Floresta Amazônica, que é a maior floresta tropical do mundo. Ela se estende por nove territórios da América do Sul, com aproximadamente 62% (sessenta e dois por cento) de sua área situados no Brasil (IBGE 2021), sendo a maior com a preservação ambiental do mundo.
Outro dado importante desse colossal Estado da região Norte do Brasil, é o fato de a maior bacia hidrográfica, a bacia Amazônica e o maior rio em volume de água e extensão do mundo, o Rio Amazonas (IBGE 2021) também estarem situados nele. Com isso, se tem um dos maiores desafios logísticos e de infraestrutura do planeta.
Como consequência, o acesso às áreas habitadas na região amazônica é algo altamente complexo para as iniciativas públicas, desde a esfera federal até as esferas estadual e municipal, cujo acesso de transporte muitas vezes é feito por meio de parcerias com a iniciativa privada e/ou ações próprias da população. Devido a essa dificuldade na logística e infraestrutura, muitos serviços públicos como saúde, segurança, social, lazer, cultura, negócios e, principalmente, a educação, são afetadas, impactando negativamente no desenvolvimento da região.
No caso da educação e falando do maior órgão que define as políticas de acesso, o Ministério de Educação (MEC), com o surgimento das novas tecnologias da comunicação e informação (TIC). Como os computadores e internet, foram desenvolvidos vários projetos e programas já em meado de 1970 com os primeiros registros do uso computacional na educação na região (BRASIL, 2019) com isso, o ecossistema educacional passou a ter acesso a uma educação de qualidade e, atualizada com a realidade atual, conforme estabelecido pelo programa de educação conectada com a logomarca se encontra na figura 1
Cinquenta anos depois das primeiras políticas de uso da tecnologia na educação no Brasil e depois da maior pandemia que o mundo já enfrentou, a educação teve que se adaptar ao mundo digital principalmente ao ensino remoto emergencial (ERE).
Imagem 3 — Aula do projeto “Amazonas +Conectado
Contextualização do Problema e Justificativa
A validação do problema é crucial para o desenvolvimento de uma solução eficaz para solucionar uma “dor” real do cliente/usuário. Nesse caso, a validação foi baseada em um projeto anterior desenvolvido com o objetivo de melhorar a educação regional, no qual o autor foi coordenador por quatro anos. O projeto intitulado “Amazonas +Conectado”, foi implementado por meio de uma parceria entre Secretaria de Estado de Educação do Amazonas (Seduc/AM) e a Google, e visava levar tecnologia avançada com soluções offline e baixa conectividade para escolas estaduais em comunidades ribeirinhas remotas.
Durante a aplicação do piloto Amazonas+Conectado foi levantada a infraestrutura técnica disponível; colheu-se informações sobre as formações continuadas dos professores locais das escolas estaduais selecionadas para participarem do projeto. Observou-se ainda a ausência de espaços de aprendizagem, a capacidade de atendimento das escolas, os laboratórios de informática, as bibliotecas A partir disso, pode-se pensar na implementação de educação inovadora nas comunidades ribeirinhas onde as escolas estão situadas.
Diante dessas análises foi possível elaborar um plano de ação, cuja possibilidade de aplicabilidade do projeto poderia ser realizada em um espaço fora da escola, em que os estudantes e professores passam muitas horas ociosas devido à distância de suas residências com relação à escola, que são os barcos utilizados para o transporte escolar.
Estratégia de Intervenção
O processo de ideação desse projeto ocorreu por meio da união de duas ações, quais sejam: as observações in loco regionais, alinhado com a experiência de projetos de alto impacto global e os dados logísticos que oportunizaram a criação do “ETIAI” Curiosamente esse é um nome sugestivo com tom indígena, mas, que se trata de uma sigla que resume muito bem a ideia do projeto “Estrutura Tecnológica Itinerante de Aprendizagem Inovadora”.
O local de aplicação do piloto teve como principal premissa evitar custos altos aproveitando ao máximo os recursos públicos já destinados para o transporte fluvial dos estudantes escolares, como: tripulação, combustível e o próprio barco. As prefeituras municipais são as que mais têm esse tipo de serviço contratado, pois transportam ao longo do ano professores e estudantes, nas comunidades adjacentes de suas casas até as escolas municipais onde estão lotados e matriculados.
Outro fator importante para aplicação do piloto foi a escolha do município Manacapuru, que está a 70.66km da capital Manaus, levando em torno de 1h23min aproximadamente de Manaus até o município; o fácil acesso dos consultores e instrutores; a logística dos equipamentos; necessários para a adaptação do barco escola no espaço de inovação.
O próximo passo foi a formalização por meio de ofício entre os órgãos públicos, como, o Cetam, o Governo do Estado do Amazonas e a Secretaria Municipal de Educação do município de Manacapuru, solicitando autorização para adaptação e uso do barco escolar durante o piloto ETIAI, que foi executado em meados de novembro de 2022.
A pessoa indicada pela Secretaria para apoiar com a parte logística do barco escolar e mobilização da escola junto aos os professores e estudantes, foi o Professor da rede Heberton Atayde, que já possui vasta experiência em projetos de conectividade a nível estadual, como o Centro de Mídias de Educação do Amazonas (CEMEAM) que leva aula via satélite para o interior do Estado até as regiões ribeirinhas e, também, participou do piloto do “Amazonas +Conectado” mencionado anteriormente neste artigo, como referência.
Na equipe foi necessária a presença de um especialista em espaços de inovação e assim foi convidado a participar do projeto ETIAI o consultor Carlos Junio do Fab Lab Manaus, participando de forma voluntária.
Foi criado um instrumento de diagnóstico utilizando um formulário online para levantar os dados necessários do mapeamento, pois, apesar do município de Manacapuru ter sido escolhido, o foco são as comunidades ribeirinhas. Dessa forma, foi necessário verificar a viabilidade da logística para realização do piloto que iria envolver desde a parte da implantação técnica do ambiente de inovação, à formação dos professores e aplicação na prática com os alunos durante as viagens no barco escola durante o período de aplicação do piloto do projeto.
O Coordenador local Heberton Atayde ficou responsável por coletar os dados junto com a Secretaria Municipal de Educação de Manacapuru e, com base nas análises das respostas é que pode-se saber exatamente qual escola e comunidade ribeirinha iria ser o piloto, a divisão foi feita com dados de contatos dos professores e alunos que seriam os multiplicadores da cultura da inovação, a logística detalhada da distância e combustível, finalizando com a infraestrutura do barco que poderia aproveitar e adaptar para o ambiente de ensino e aprendizagem.
Imagem 7 — Mapa mental do diagnóstico e análise após 1ª reunião Coordenação
Após diálogo com os principais interessados, que envolve professores, alunos e secretaria municipal de educação do município de Manacapuru, observou-se a falta de conhecimento das ferramentas e recursos tecnológicos dos envolvidos, conforme o mapa mental acima (imagem 7). Portanto foi lançado o convite para que o coordenador local fizesse uma visita ao Fab Lab Manaus, referência da cultura maker no Estado do Amazonas.
Imagem 8 — Barco típico do transporte escolar do Amazonas, antes e depois da adaptação
Solução Recomendada
Seguindo o planejamento, o barco escolar foi escolhido de acordo com as informações coletadas por meio do questionário e com diagnóstico levantado pelo município Sempre pensando na máxima “Fazer mais com menos”, que se aplica muito à realidade do setor público, foram reaproveitados materiais que seriam descartados, por exemplo compensados e madeiras sem valor comercial ou com alguma avaria foram cedidos por uma marcenaria. O objetivo foi adaptar o ambiente do barco para fins educativos, deixando-o mais adaptável possível para fins escolares, tornando possível a realização das práticas durante a semana após as formações dos especialistas nos finais de semana com a seguinte estrutura: Mesa reunião, TV centralizada para projeção do conteúdo e bancos compridos para acolher os alunos ao redor do centro de aprendizagem.
Durante as visitas in loco ao barco escolar, foram identificados desafios na aprendizagem que seriam monitoradas durante o piloto, tais como:
- Movimentação durante o trajeto;
- Barulho entre o motor e ambiente;
- Paradas para pegar os alunos em cada comunidade;
- Segurança dos equipamentos e dos participantes no manuseio das tecnologias que envolvessem elétrica e sua relação principalmente com as tempestades muito frequentes na região amazônica;
- Geração de resíduos que seriam produzidos nas práticas das aulas que poderiam impactar negativamente o meio ambiente.
Com o ambiente de inovação adaptado no barco escolar focou-se no conteúdo que seria aplicado durante o piloto com os professores e alunos, no qual na parceria ficou a responsabilidade do Cetam selecionar os instrutores especialistas em temáticas da educação inovadora que já fazem parte dos mais de 500 cursos do catálogo da entidade, com isso, foram convidados profissionais que atuaram ao longo do ano nas escolas profissionalizantes, com o foco de levar conteúdos digitais e criativos para a realidade ribeirinha dentro de um barco escolar em movimento.
Foram selecionados profissionais com domínio TIC, bem como Linguagem computacional, cultura maker e empreendedorismo digital voltado a startups. Esses foram distribuídos conforme o cronograma da tabela 1, com foco na formação dos docentes que moram e viajam todos os dias com os alunos da comunidade ribeirinha de Ajaratubinha no Município de Manacapuru:
Tabela 1: Lista dos instrutores
Foi realizado o mapeamento do trajeto e identificadas as turmas que iriam participar do piloto. No caso, a responsabilidade de atendimento das prefeituras municipais inicia nas creches até os anos finais do Ensino Fundamental, o quadro a seguir mostra os números de alunos:
Imagem 09 — Documento oficial mostrando o quantitativo de alunos do piloto
O processo de construção dos planos de aulas que seriam ministradas aos professores da Escola Municipal Presidente Kennedy foi contextualizado com a realidade e componentes que estão abordando com os alunos para uma melhor aprendizagem no ETIAI.
Imagem 10–1º Módulo “Modelismo em Papel” com o instrutor Chaar no barco escolar e sala de aula na escola
A intenção do projeto foi formar professores aos sábados letivos previstos no calendário escolar e, a cada módulo que tem carga horária de oito horas, nos quais foram aplicados conceitos inovadores na aprendizagem, como o conceito de “DIY — (em inglês Do it yourself, em português “Faça você mesmo”) um dos pilares da cultura Maker, que previa entregas finais dos produtos criados durante as oficinas.
Imagem 11 — Aplicação do 1º Módulo “Modelismo em Papel” com os alunos no barco e entrega dos produtos
Dando sequência ao projeto, iniciando a rotina diária da viagem no barco escolar com os professores e alunos, era aplicado o conhecimento e prática aprendida na formação durante o trajeto de busca de estudantes em cada comunidade ribeirinha.
Habilidades foram desenvolvidas durante as oficinas como:
- Raciocínio lógico;
- Criatividade;
- Trabalho em equipe;
- Domínio da matemática;
- Concentração;
- Resolução de problemas de diferentes formas.
Planejamento Financeiro
Tabela 2: Orçamento do material usado na formação
Mediante os dados apresentados nesta pesquisa, observou-se a viabilidade do projeto visto que é aproveitado a estrutura logística e operacional da entidade educacional, otimizando e agregando valores, bem como minimizando o tempo ocioso que ocorre durante o trajeto dos estudantes e professores de suas casas até as escolas.
O projeto também agrega valor social às comunidades ribeirinhas por levar a possibilidade de acesso à cultura maker, inovação e tecnologia na educação local.
Outro fator importante é a viabilidade financeira, por serem aproveitados: a logística já prevista no transporte escolar, a tripulação dos barcos, a equipe docente e o espaço (barco) para que o projeto aconteça.
Resultados
- Apresentação — Projeto Estrutura Tecnológica Itinerante de Aprendizagem Inovadora
- Efeito — Diante das dimensões continentais da Amazônia e a logística que leva do espaço tempo das comunidades ribeirinhas para as escolas, percebeu-se a oportunidade de otimizar o transporte escolar como os barcos para atividades escolares.
- Argumentação — Dificuldade de acesso à educação e principalmente as novas tecnologias emergentes na educação que dependem da conectividade, com alternativas de baixo custo e fácil acesso para terem acessos à educação 4.0.
- História — Com a experiência pessoal do autor com a parceria com a multinacional tecnológica Google na Secretaria de Estado de Educação do Amazonas em meados de 2014, surgiu a ideia de aproveitar no curso IMP para ajustar com técnicas e metodologias de design thinking a oportunidade de adaptar para outros realidades Amazônicas como os principais meios de transporte escolar, os barcos.
- Produto — Adaptou-se um barco escolar que já é utilizado para transporte escolar, colocamos uma bancada de trabalho coletiva com cadeiras ao redor, uma TV centralizada e materiais
- Entrega — Os alunos entregaram a cada final de cada módulo um produto pedagógico e pretende-se que ao final do piloto seja incorporando a rotina diária da escola dentro do ambiente de inovação adaptado no barco escolar.
- Antecipação — Como pontos de melhorias temos que verificar a questão do barulho do motor e estabilidade do barco, também a questão da segurança dos alunos com relação ao manuseio dos materiais não utilizando lâminas, estiletes, pontas contundentes.
- Mais informações — https://photos.app.goo.gl/jww1P7orWQttTtTd7 — Álbum do piloto ETIAI e portfólio do autor https://www.reinierfreitas.com/ e referência — https://youtu.be/V5CufFEmrvw
Referências
FAS — AMAZONAS. FUNDAÇÃO AMAZÔNIA SUSTENTÁVEL . Censo da FAS e Unicef revela que 97% das comunidades ribeirinhas não têm acesso à internet. Disponível em: <https://fas-amazonia.org/censo-da-fas-e-unicef-revela-que-97-das-comunidades-ribeirinhas-nao-tem-acesso-a-internet/>. Acesso em: 12 jan. 2023.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cidades e Estados. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/am/manaus.html>. Acesso em: 12 jan. 2023.
LIRA, T. de M.; CHAVES, M. do P. S. R. Comunidades Ribeirinhas na Amazônia: organização sociocultural e política. Interações. Campo Grande, MS, v. 17, n. 1, p. 66–76, jan./mar. 2016.
Por:Reinier Alex de Oliveira Freitas