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No dia 21 de abril é comemorado o Dia da Indústria Têxtil. Em meio aos desafios impostos pelo avanço das varejistas asiáticas no mercado global e pela pandemia da Covid-19, o setor tem buscado cada vez mais investir em inovação e sustentabilidade para se manter competitivo.
Os esforços para uma produção mais verde não só contribuem para a proteção do meio ambiente, mas também para o desenvolvimento do setor e para a geração de empregos. Levantamento da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), divulgado em 2022, indica que o faturamento da cadeia têxtil e confecção brasileira chegou a R$ 190 bilhões em 2021. O setor contribui com 5,7% do PIB industrial brasileiro, empregando mais de 1,5 milhão de pessoas.
Um cenário muito favorável para transformar esse rentável mercado em uma referência de desenvolvimento sustentável, a partir da inovação. Em parceria com o Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), a Abit tem o Núcleo de Sustentabilidade e Economia Circular (Nusec). Ele foi criado para atender uma demanda por informações qualificadas sobre sustentabilidade da indústria têxtil e de confecção do país.
Aliás, soluções sustentáveis e inovadoras são o ponto de partida para o desenvolvimento de consultorias, pesquisas e projetos liderados pela rede de Institutos SENAI de Inovação e de Tecnologia. O trabalho integrado entre especialistas das áreas de Biossintéticos e Fibras e de Tecnologia Têxtil e Confecção e empresas de todos os portes rende resultados expressivos, com patentes concedidas e produção em escala industrial.
O diretor de Inovação e Tecnologia do SENAI, Jefferson Gomes, destaca o empenho da indústria no desenvolvimento da economia circular no país:
“O SENAI e a Indústria já estão utilizando diversas estratégias para promover a circularidade da moda e dos têxteis utilizados nessa cadeia, criando roupas a partir de tecidos reciclados ou transformando sobras de produção em novos produtos”, disse Gomes.
As iniciativas criadas vão desde o reaproveitamento de pelos de pets até o desenvolvimento de roupas antichamas. Confira alguns desses projetos:
Fio de pelos de pets e garrafas plásticas
Em parceria com o SENAI CETIQT, a startup Fur You produziu um fio composto pela mistura de resíduos de pelos de tosa de pets com uma fibra de poliéster, obtida a partir da reciclagem de garrafa PET.
Segundo o analista de mercado do SENAI CETIQT e integrante do Nusec, Rafael Rocha, o projeto foi idealizado com objetivo de encontrar uma forma de descarte mais sustentável dos pelos de tosa de cães.
“A ideia é ajudar a evitar o descarte de pelos de tosa em aterros, criando um novo fio capaz de ser utilizado na produção de tecidos para a produção de artigos de vestuário e acessórios”, explica Rocha.
Além de dar uma alternativa sustentável aos pelos descartados, a iniciativa ainda promove a parte social. CEO da Fur You, Doris Carvalho, disse que também foi desenvolvida uma parceria com cooperativas de mulheres que atuam em aterros sanitários.
“A parceria com cooperativas de mulheres auxiliará famílias em situação de vulnerabilidade. Para os usuários, no caso cães e seus donos, os produtos que serão comercializados estarão livres de produtos químicos usados em roupas e acessórios sintéticos”, aponta Doris.
Roupas a partir do caule da banana
Também com o apoio do SENAI CETIQT, a empresa Musa Fiber, conseguiu dar uma destinação criativa ao resíduo agrícola da bananicultura e, a partir da fruta, desenvolveu produtos têxteis.
Líder do projeto, o pesquisador do CETIQT Ricardo Cecci afirmou que a fibra do caule da banana tem “boas características morfológicas”, que permitem projetar uma celulose com alta resistência mecânica – característica importante para a fabricação de itens têxteis.
“Desde o estabelecimento do conceito de sustentabilidade, na década de 1990, o termo vem sendo utilizado como estratégia na diferenciação de produtos pelos mais variados setores, tendência essa que também se reflete no setor têxtil. Ao propor o desenvolvimento de fibras, fios, tecidos a partir do resíduo agrícola da produção de banana, desenvolvemos mão de obra e agregamos qualidade no processo, apresentando um produto diferenciado para a indústria”, acrescenta Ricardo Cecci.
Fibras antichamas ou retardantes à chama
A empresa Ecofiber Grupo Altenburg e o SENAI CETIQT criaram fibras com propriedades antichamas ou retardantes à chama.
De acordo com a patente concedida, o uso de materiais desse tipo pode evitar acidentes e proteger os trabalhadores da construção civil, por exemplo. A ideia é implementar ao DNA das fibras aplicadas na indústria têxtil uma nova formulação com propriedades antichamas ou retardante à chama.
A produção da fibra e a formulação do aditivo foi desenvolvida pela equipe de pesquisadores do instituto, e os produtos, fabricados pela Ecofiber.
Bolsa de pele de peixe
A Osklen, marca carioca fundada em 1989, desenvolveu também com o SENAI CETIQT bolsas que reaproveitam a pele do pirarucu, peixe da bacia amazônica. As peles, descartadas após o consumo do peixe, passaram a ser usadas na fabricação do acessório.
A criação do produto, além de contribuir para a economia circular, trouxe renda para famílias da Amazônia e ajudou a desenvolver a bioeconomia.
Sustentabilidade na indústria e metas ambientais
A preocupação com a sustentabilidade tem sido cada vez mais integrada na estrutura de todos os setores da indústria brasileira. De acordo com pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada no ano passado, 6 em cada 10 empresas disseram ter uma área dedicada ao tema, representando um salto em relação a 2021 – quando apenas 34% dos entrevistados afirmaram ter no seu organograma um setor para lidar com o assunto.
Além disso, a pesquisa mostrou que aumentou a exigência dos empresários por certificados ambientais de seus fornecedores e parceiros na hora de fechar um contrato, evidenciando uma preocupação com o impacto na cadeia produtiva.
De acordo com o gerente executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo, o país tem condições de ser uma potência na economia circular, por ter vantagens como abundância de recursos naturais e biodiversidade, uma indústria diversificada e amplo mercado consumidor.
“Porém, para transformar as vantagens do país numa alavanca para o desenvolvimento sustentável, é preciso políticas públicas e um sistema de governança que impulsione a economia circular. Tudo isso vinculado à estratégia de baixo carbono”, ressalta.
Os esforços da indústria se somam às iniciativas do governo brasileiro para cumprir a agenda de metas firmadas na área ambiental, como zerar o desmatamento em todos os biomas brasileiros até 2030.
Foi criada em fevereiro deste ano a Comissão Interministerial Permanente de Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas no Brasil (PPCD), que busca também reduzir as emissões de gases de efeito estufa e gerar renda e qualidade de vida para a população que vive e se relaciona com a floresta.