O governo federal anunciou o nome do embaixador André Corrêa do Lago para presidir a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), que acontecerá neste ano em Belém (PA).
O anúncio foi feito pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e pela secretária-executiva do Ministério das Relações Exteriores, Maria Laura da Rocha, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“O diplomata André Corrêa do Lago é o presidente da COP. E aproveito para parabenizá-lo, pela segunda vez aqui, de público, agradecendo pela disposição. E o Ministério do Meio Ambiente, com a secretária Ana Toni, que será a diretora-executiva da COP”, anunciou Marina.
Corrêa do Lago é, desde 2023, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores – cargo criado já no atual governo. Ele trabalha com temas de desenvolvimento sustentável desde 2001.
O embaixador também já esteve à frente das negociações por parte do Brasil nas conferências de clima da ONU.
Queria agradecer a confiança do presidente Lula em me nomear presidente da COP 30. É uma honra imensa, e acredito que o Brasil pode ter um papel incrível nessa COP. Agradeço também ao resto do governo, porque a COP, a gente vai ter que construir todos juntos. E além do governo, com a sociedade civil, o empresariado, todos os atores que são absolutamente essenciais na formação do que o Brasil quer desta COP”, afirmou o novo presidente da COP, em seguida.
Corrêa do Lago também agrega no currículo a experiencia em cúpulas internacionais. No G20 do ano passado, por exemplo, o embaixador coordenou o grupo de trabalho voltado para Sustentabilidade Ambiental e Climática.
Entre os méritos da atividade liderada por Corrêa do Lago está o documento que estabelece os 10 princípios de alto nível sobre bioeconomia. Foi a primeira vez que o grupo de países discutiu o tema e chegou a um documento de consenso multilateral.
“Com a ajuda de vocês, vamos fazer uma COP que será lembrada com entusiasmo”, disse o embaixador.
Ana Toni será ‘número 2’ da COP
A secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni, foi anunciada como CEO e secretária-executiva da COP. Na prática, a número 2 no comando.
Como secretária da pasta liderada por Marina Silva, Ana Toni foi a responsável por liderar o trabalho de atualização da meta de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil. Toni apresentou a nova meta brasileira na COP 29 de Baku, antes do vencimento do prazo, previsto para fevereiro de 2025.
Toni é economista e doutora em ciência política. Possui trajetória marcada com atuações em projetos voltados à justiça social, à promoção de políticas públicas, à área do meio ambiente e mudanças climáticas e à filantropia.
A secretária também já atuou como diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (ICS) e já foi presidente de conselho do Greenpeace Internacional. Também já trabalhou na diretoria da Fundação Ford no Brasil e da ActionAid Brasil.
Além do mais, Toni também tem atuação na Rede de Mulheres Brasileiras Líderes pela Sustentabilidade, ClimaInfo e Instituto Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
O que faz o presidente da COP?
O cargo de presidente de uma COP tem peso importante, pois cabe ao ocupante da função mediar e articular os debates com outros países, e, até mesmo, construir consenso para uma declaração final.
A COP 30 terá grandes desafios. A Conferência do Azerbaijão não resolveu totalmente a questão do financiamento climático. E o governo brasileiro tem visto com preocupação a carga de demandas que a cúpula terá de resolver.
Segundo especialistas, o Brasil terá a responsabilidade de retomar o debate e avançar em acordos para a preservação ambiental e climática.
Para o Itamaraty, a COP 30 poderá deixar como “grande legado” a renovação de compromissos com a redução das emissões de gases poluentes e o término de debates que o Azerbaijão não concluiu.
Entidades elogiam escolha do diplomata
Entidades da sociedade civil repercutiram nesta terça-feira o anúncio do governo de que André Corrêa do Lago será o presidente da COP 30 e elogiaram a escolha.
O Observatório do Clima, por exemplo, disse que “dificilmente haveria alguém com mais estatura” para a função, acrescentando que o diplomata tem experiência no tema e em negociações climáticas.
Para a entidade, o presidente da COP 30 terá “agenda desafiadora”, uma vez que precisará, por exemplo, indicar como será possível mobilizar os recursos necessários para o combate às mudanças climáticas.
“A COP 30 precisa provar ao mundo que o processo multilateral de clima ainda é importante para lidar com o maior desafio coletivo da humanidade. Precisa acelerar a implementação do Acordo de Paris, […] garantir que as metas nacionais dos países para 2035 sejam alinhadas com o objetivo de limitar o aumento da temperatura a 1,5 ºC”, afirmou a entidade.
O Greenpeace, por sua vez, disse que André Corrêa do Lago “possui o conhecimento e as capacidades necessárias” para mediar as negociações da conferência.
“O maior desafio da Presidência da COP 30 sem dúvida será imprimir a urgência necessária a um processo que encontrará, no cenário político, sinais invertidos. Não podemos nos distrair do que precisa ser feito: a transição para um mundo sem combustíveis fósseis e a viabilização de recursos para que os países em desenvolvimento possam cumprir seus planos de mitigação e adaptação”, declarou a entidade.
Em nota, Tatiana Oliveira, especialista de políticas públicas do WWF-Brasil, disse que a indicação de um diplomata “experiente e hábil” como André Corrêa do Lago “é um bom presságio de que a COP30 poderá entregar”.
“A COP30 precisa garantir ações de mitigação que respondam à urgência da crise climática, incluindo o compromisso com metas mais ambiciosas, com a promoção de uma transição energética justa e com a viabilização do financiamento necessário. Nada disso será possível se a conferência não for um espaço de diálogo e de construção coletiva que favoreça a superação de divergências entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, valorizando as vozes de povos indígenas, populações periféricas, comunidades quilombolas e tradicionais nos processos de tomada de decisão”, afirmou.
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