O ritmo de inovação e de desenvolvimento tecnológico no mundo cresce em velocidade exponencial e há oportunidades para o Brasil, mas é preciso destravar barreiras para que o país as aproveite. Esse é um consenso entre os oito especialistas que compõem o novo Comitê Consultivo Internacional da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), coordenada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O grupo se reuniu pela primeira vez nesta segunda-feira (6) na Escola Saïd de Negócios, uma das 38 que compõem a Universidade de Oxford, na Inglaterra.
“Neste momento, em que o Brasil e o mundo buscam o fortalecimento de políticas públicas e de estratégias que favoreçam o crescimento econômico e social, é importante fazer um balanço do trabalho que realizamos e discutir nossa atuação daqui para a frente. Vamos avaliar as principais tendências nas áreas de ciência, tecnologia e inovação”, disse.
O encontro de estreia contou com a participação da ministra de Ciência e Tecnologia do Brasil, Luciana Santos. Ela destacou as contribuições importantes da MEI para o ecossistema de inovação do país, como a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), a defesa dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento de Ciência e Tecnologia (FNDCT) e a aprovação do Marco Legal de Ciência e Tecnologia.
“Inovação e tecnologia são ferramentas para solucionar problemas grandes do Brasil, como a pobreza, o aumento da competitividade, a sustentabilidade e, claro, a reindustrialização. Queremos devolver o papel chave da ciência na tomada de decisões no país. Aqui, ouvindo a discussão, tenho ainda mais certeza de que precisamos de pressa”, afirmou.
Segundo ela, a meta da pasta é recompor o orçamento do FNDCT, principal instrumento de financiamento à inovação, até abril. As áreas de saúde, mudanças climáticas, eficiência energética e bioeconomia são as maiores prioridades da pasta.
Liderança brasileira representa a América Latina
Presidente do comitê consultivo e reitor da Escola Saïd de Negócios, Soumitra Doutta destacou a importância do protagonismo do Brasil não apenas como defensor de interesses nacionais, mas como a voz da América Latina.
“O Brasil é uma nação líder, mas deve buscar objetivo maiores. O país é naturalmente uma liderança na América Latina e se o Brasil não agir rapidamente, muitas pessoas ficarão de fora de um debate e, mais importante, de um processo de desenvolvimento. A MEI é uma história de sucesso e impulsiona a inovação, mas é preciso ir além”, avaliou.
Além dele, integram o grupo: Frédérick Bordry, membro honorário da Organização Europeia para Desenvolvimento Nuclear (Cern); Uzi Scheffer, CEO do SOSA, plataforma de inovação israelense; Carlos Lopes, professor da Universidade da Cidade do Cabo na África do Sul; Deborah L. Wince-Smith, CEO do Conselho de Competitividade dos Estados Unidos; Dani Rodrik, professor da Universidade de Harvard; Holger Kohl, diretor-adjunto da Fraunhofer, rede de institutos de pesquisa da Alemanha; e Pedro Wongschowski, presidente do Conselho de Administração do Grupo Ultrapar e líder da MEI.
Inovação também precisa acompanhar desafios sociais
Enquanto o ritmo de desenvolvimento de tecnologias e de inovação só se acelera em países desenvolvidos, alcançar o passo não é só uma questão de competitividade, mas também de impedir que esse ritmo agrave a desigualdade social entre pobres e ricos. Esse é o principal recado de Carlos Lopes, economista e professor da Universidade do Cabo.
“Essa trajetória de crescimento cria uma trajetória de desigualdade insustentável. Então, países em desenvolvimento precisam de estratégias sofisticadas para responder a esses desafios”, disse.
A analogia é das melhores: precisamos ser menos como leões e mais como guepardos. “Leões rugem, não são sensíveis à questão de gênero: eles são os primeiros a comer a caça, que quem faz são as leoas. Há um elemento de preguiça e pomposidade, falta objetividade. Precisamos agir como guepardos, que são rápidos, precisos e eficientes. Além de tudo, tanto fêmeas como machos caçam”, complementou. Para o caso brasileiro, infraestrutura e investimento na habilidade humana. “Mas é importante entender como essas habilidades e capacidade de conhecimento humano pode contribuir para a mudança”, pontuou.
Mapear é preciso
Nascido em um país que fez o investimento em inovação saltar de US$ 80 milhões em 1993 para US$ 3,3 bilhões em apenas 30 anos, Uzi Scheffer, CEO da plataforma israelense SOSA, acredita que essa virada aconteceu em Israel com a ajuda de uma figura central responsável pela agenda de inovação. A autoridade central oferece diversos programas diferentes, mas é mais fácil acessar os instrumentos de inovação quando a estrutura é organizada. “Nós temos todo o ecossistema mapeado e o estado israelense participa dividindo o risco do investimento”, explica.
Estratégia deve ser vinculada politicamente
A administração de Joe Biden na presidência dos Estados Unidos reacendeu o debate sobre o papel do estado no financiamento da inovação, assim como estratégias de reindustrialização do país. “Se você perde a sua manufatura, você perde a próxima geração de inovação. A estratégia de desenvolvimento, tanto nos Estados Unidos, quanto no Brasil, tem de ser integrada e, importante dizer, vinculada à presidência da República”, afirmou Deborah Wince-Smith, CEO do Conselho de Competitividade dos Estados Unidos. Ela destacou ainda a importância de estruturas como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o avanço da Inovação.